Guia prático para quem tem medo de ser demitido

“Por favor, respeite meu momento…”. Quem foi demitido, assim que recebe a notícia (e pior, mesmo que seja esperado, combinado ou qualquer outra coisa que trouxesse alguma visibilidade do processo), tende a passar pelas fases do luto (com sentimentos semelhantes ao da perda de um ente querido). Alguns passam voando e rapidamente direcionam sua energia para outra coisa; outros, remoem, sofrem, se penalizam, se vitimizam por dias, semanas, meses a fio….

O choque às vezes é tão grande que a pessoa nem consegue perguntar o real motivo da demissão. Em tempos de crise, o corte de custos virou a principal motivação, mas porque foi você o escolhido? Vale usar o feedback para melhorar e crescer, é o aprender com a situação.

Ressalva: aqui a orientação é apenas pegar o feedback, não rebate-lo, questioná-lo, etc. Inês é morta…Agradeça e siga.

Se você nunca passou por uma demissão, deixa eu te contar destas fases da forma como mais comumente acontecem. Recebeu a notícia: choque – forte, se for surpresa (na verdade nunca é, a gente é que não percebe os sinais), fraco, se for esperado, combinado, etc. Aí entra a fase da negação: não compreende porque aconteceu com ele, tão dedicado, tão comprometido, tinham tantas outras opções. Então chega a raiva e a pessoa passa a mirar em todos os “causadores” do mal: “sabia que fulano não gostava de mim”, “foi só por causa de beltrano” …

Tem gente que só até aqui já consumiu umas 3 semanas da vida até chegar a fase de negociação. Nesta fase a pessoa faz promessas, “vou ser mais saudável”, “vou ser menos rude”, bate a humildade e a reflexão. Aí vira a depressão. Nesta fase bate a certeza de que o tempo não volta, a pessoa fica melancólica, triste, desesperançosa. Até que atinge a aceitação, e só nesta fase é que as pessoas conseguem se mover para mudar a situação, achar outro emprego, começar a produzir novamente, empreender, encontrar outro sentido para a vida…

E na tentativa desesperada de abreviar este processo, muitos, no dia seguinte à demissão disparam currículos como uma metralhadora, acionam toda a sua rede, fazem post no face, no insta, no linkedin, só faltam colocar anúncio na rádio. O problema em fazer desta forma neste período é que não necessariamente você estará pronto para outra. Não é ruim usar alguns dias para colocar a cabeça no lugar e pensar sobre a própria vida. Quantos não receberam demissões depois de anos sem férias e um ritmo mega estressante? A vida não vai ser perdida por alguns dias de acalento, relaxamento e dolce far niente…

Como já mencionei, cada um tem um tempo para passar pelo processo, mas se puder tomar algumas atitudes, faça assim:

#1 – se permita sentir o que desejar… seja raiva, tristeza, inconformismo, não importa. Guardar sentimentos não vai te ajudar a acelerar as fases. Colocando para fora você pode argumentar com você mesmo e ir sedimentando novos pensamentos. Afinal “Como sentindo raiva da <empresa tal/fulano> pode me ajudar a melhorar?”.

#2 – faça um planejamento financeiro plausível. Ninguém disse para, no dia seguinte, já tirar as crianças da escola, vender o apartamento, o carro, etc., mas conforme as reservas financeiras que tiver faça o melhor plano que estiver ao seu alcance. Certamente muitos itens tidos como supérfluos, mimos ou luxos, podem ser retirados sem causar tanto impacto (jantar fora, compras toda semana, a balada, o vinho, etc). Pode até estabelecer um planejamento de corte, neste mês corta isso, no próximo a TV a cabo, diminui a internet, e assim por diante. Isto não é uma sentença de morte, apenas uma forma de racionalizar um pouco seu orçamento, pois nunca se sabe exatamente quanto tempo o desemprego vai durar.

#3 – Invista em algum curso. Eu sempre acho válido. Se possível, agora que tem tempo, faça um curso que tenha relação com o que deseja. Isto ajuda a te colocar em contato com outras pessoas, abrir a mente e até semear oportunidades.

#4 – Planeje-se. De novo, tire alguns dias para a cabeça e corpo. Vá ao médico, durma um pouco mais, faça algo que não estava conseguindo antes: viaje, inicie exercícios, etc. Nem tudo tem custo, mas isto é importante para dar fôlego para a próxima fase, pois, a não ser que seja herdeiro de uma fortuna ou ganhador da mega sena, o que podemos dizer é que este período sem ocupação vai acabar, de um jeito ou de outro. Depois deste prazo, planeje sua retomada. Atualize seu currículo, suas redes, defina que tipo de cargo, empresa, ocupação deseja e só então, com seu novo discurso para esta nova fase bem afiado, parta para acionar seu network, headhunters, amigos e tudo mais que puder. Ai sim é a hora de falar para todo mundo.

#5 – Se estiver com dúvidas, peça ajuda. E ajuda aqui meu caro, não é conselho de amigo. Pois eles falarão com a “lente de vida deles”, que pode não ser a sua. Eles não fazem isso por mal, pelo contrário, geralmente é porque te querem muito bem. Se estiver com muitas dificuldades, sugiro procurar ajuda profissional e isso tem nome: procure um bom coach. Bom porque os bons profissionais vão conseguir te ajudar efetivamente com método, ferramentas, condução planejada. Coach não é psicólogo, e um bom coach não vai ficar ouvindo você se lamuriar das coisas, coach olha para o futuro.

Parágrafo único e muito importante!

Não feche os olhos para as mais diversas oportunidades do mercado. Se já estava infeliz, insatisfeito, questionando sua existência fazendo o que fazia, é hora de pensar se não deveria começar algo novo, diferente, mais relacionado ao que gosta e acredita. As limitações estão todas na nossa cabeça. Pode não ser fácil, mas também não é impossível.

Por vezes, você precisa do movimento para gerar a mudança. Tenho pessoas próximas que só depois de sair do trabalho em que estavam, conseguiram enviar currículos de forma consistente, acionar o network e alcançar aquela vaga tão sonhada (no caso foi até em outro país). Ou seja, só geraram movimento em direção ao que queriam quando saíram da zona de conforto. Digo também por mim, tudo que eu alcancei na vida ocorreu quando algo desafiava minha zona de segurança…

E se você tem medo de ser demitido, desapegue. Passe a prestar atenção no que está fazendo, no seu momento de vida, em como está (ou não) contribuindo para a empresa, peça feedbacks, seja genuíno na mudança. E aproveite para também refletir sobre sua carreira. Não espere que a vida te dê um empurrão para fazer algo que poderia ser feito ainda empregado.

Lembre-se que o “não” da vida, muitas vezes é um “sim”, a gente só não estava pronto para entender 😊

Abraços e não deixe de aproveitar a vida!

Sobre a autora:

Glaucia Miyazaki – parceira RH|PM

Sou empreendedora, executiva e Coach com mais de 20 anos de experiência profissional no chamado “Mundo Corporativo”, atuando em cargos de liderança e diretoria das áreas de Marketing, Vendas e TI de diversas empresas mercado. Publicitária formada pela ESPM/SP, Pós-graduada em Administração e com MBA em Gestão Empresarial pela FGV/SP. Vivenciei de tudo: de pequenas familiares a gigantes varejistas, de Entretenimento a Telecom, de Start-ups a falimentares, de serviços e de produtos, de organizadas as sem muitas regras…. Tenho uma abordagem mais holística sobre a gestão e seu papel e sou conhecida pela forma franca e direta de me expressar. “Quando me pedem um feedback, já vou logo perguntando: Com ou sem açúcar? ”.

Adoro tecnologias, inovação, sou mãe (dois lindos meninos), mulher, esposa e adoro cozinhar.

Crédito de Imagem: pixabay.com


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