Você viu um anúncio com uma vaga incrível na empresa dos seus sonhos. Aí você caprichou no currículo e se candidatou. Felizmente você foi chamado para a entrevista, mas não era uma, mas sim 4, 8, 10 entrevistas, fases ou etapas que a empresa faria contigo. E você estava só na primeira… Testes psicológicos, cases, dinâmicas, entrevista com RH, com chefe de departamento, com diretor de área, com o presidente, tudo depende de qual a função para a qual você se candidatou e o formato de seleção que a empresa adota.
Chegando no final do processo – parecem mais aqueles games em que passando uma fase a outra vai ficando ainda mais desafiadora – você faz o que seria a última entrevista e… nada… depois de dias, semanas, nenhum retorno. Aí você fica louco da vida, xinga até a última geração da empresa, chora, se frustra… Afinal, a cada fase existe sim uma expectativa que aumenta, pois parece estar dando tudo certo para ter um desfecho tipo “morrer na praia”.
Fora os custos envolvidos (sei que isto pode demonstrar o interesse de fazer parte da empresa, mas não há como desconsiderá-los para quem está desempregado): condução, estacionamento, alimentação, pedágio…
Quem nunca passou por algo assim teve sorte. Mas vamos analisar um pouco cada parte da situação.
Porque as empresas não dão retorno?
Apesar de ser politicamente recomendado, o que mais se vê são as respostas automáticas aos recebimentos de currículos candidatos (ok, tecnologia pelo menos garantindo que o e-mail ou a submissão da candidatura funcionou). Agora, retorno depois da entrevista, raramente. Ou vem aquele e-mail padrão agradecendo sua participação, desejando sorte e/ou pedindo para que você fique ligado nas oportunidades futuras ou simplesmente nada.
Pode ser falta de tempo dos selecionadores, que às vezes têm que realizar diversos processos seletivos ao mesmo tempo, esquecimento, prioridade, congelamento interno da vaga, cancelamento da vaga, demora nos processos internos (o que faz passar o tempo e às vezes o recrutador achar que o candidato já deve ter conseguido outra posição). Nada disso é desculpa, é o mundo corporativo baby…
E ainda tem candidato que gostaria de receber um feedback de onde foi mal, porquê, etc. Sinceramente, acho isto tudo lindo e já até vi acontecer em uma empresa, mas na maioria não. Até porque, em muitos casos, nem feedback para os funcionários que já estão lá ralando no dia-a-dia é dado direto, imagina para quem só passou pela porta… Triste, mas é real.
Mas uma coisa é fato: se você for selecionado, o contato de retorno virá. Então…
Porque as empresas fazem processos tão, tão longos?
Existe um medo e custos envolvidos. Contratar um profissional para demiti-lo depois de algum tempo tem custos diretos (o valor da rescisão e encargos trabalhistas – se for CLT; treinamentos oferecidos, pagamento de empresas de hunting – se tiverem sido utilizadas, horas internas em seleção e entrevistas, etc) e custos menos tangíveis, mas com efeitos tão críticos como os diretos (curva de aprendizagem para começar a produzir, tempo de engrenar a ou na equipe, motivá-la, engajá-la, troca de contatos, fornecedores, etc.).
Para tentar minimizar estas ocorrências, cada empresa cria seu próprio sistema de seleção (sempre acreditando ser o melhor), que pode ir de uma simples entrevista com o RH e depois direto com o chefe da área de interesse, até longas jornadas com infindáveis testes, avaliações, dinâmicas, cases e rodadas de entrevistas com todos os níveis da empresa…
É louvável que a empresa queira ter e manter uma cultura forte e clara e procurar aplicá-la nos processos seletivos para identificar quem tem mais afinidade com ela. Mas apesar de todo esforço, é só no dia-a-dia mesmo que sabemos se vai dar match… igual casamento. Namora, aí vai morar junto e na hora de juntar as escovas é que o bicho pega e aí vai ou racha. Parece muito chavão, mas é a pura verdade…
Fora as empresas que nem cultura tão clara e disseminada têm para ficar tentando, na entrevista, identificar se tem ou não o perfil com base em quase nada.
Vamos combinar que algumas situações poderiam ser evitadas e poupariam tempo dos candidatos e das empresas. Se no currículo de um profissional está Engenheiro mecânico e apesar das qualificações e experiências, há uma diretriz interna específica de `para esta vaga só contrataremos engenheiros eletrônicos`, por favor não chame o candidato.
Da mesma forma, não aplique testes mirabolantes de cálculos e lógica para o atendente de uma pequena pizzaria. Atrasos sempre podem ocorrer, reuniões que não terminam no horário, etc., é possível compreender isto, mas não deixe o candidato esperando por diversas horas, isto é desrespeito. Imprevistos podem acontecer, então se desculpe, dispense-o e remarque. Não entre na moda. Faça o que é necessário e condizente para seu negócio.
Ser entrevistada por diversas pessoas de áreas diferentes para ter opiniões diferentes também é uma metodologia que questiono… a relação líder e subordinado se dá de forma muito mais direta e é diariamente construída e refinada entre as partes, não exatamente com aquelas pessoas que te entrevistaram e nem vão interagir contigo na empresa…
E se na hora da entrevista já souber que o candidato não se encaixa, já dê o retorno. Agradeça, explique brevemente o que está procurando e fim. E você candidato também não fique tentando se justificar, encontrando neste momento todos os exemplos de como você é o candidato ideal. A entrevista é exatamente o período para isto e neste caso ela já acabou…
Porque você se submete aos processos?
Aqui tem muitas frentes. Pode ser que esteja desempregado e precise muito, muito de qualquer emprego. A empresa ao qual se candidatou é a companhia dos seus sonhos. Você gostou da vaga, mas nem imaginava que a seleção seria assim…
Não importando o motivo, não vale reclamar se você tiver interesse, pois assim como você foi submetido, todas as pessoas lá já passaram ou passarão por isto se quiserem fazer parte da empresa.
Se não estiver gostando do processo, já compreenda que é o jeito que a empresa funciona, são seus valores apresentados desde o início. Se não concordar, pule fora ao invés de ficar até o final, não ser selecionado e ainda reclamar.
Gosto do jeito Disney. Passam antes um filme sobre como é trabalhar lá, o que vão encontrar pela frente, etc – uma parte já desiste nesta fase. Depois, a entrevista dura uns 15/20 min. Contratam perfis e treinam aptidões. Erram? Claro. Mas o processo é tão claro e ágil que funciona perfeitamente e a troca ocorre sem maiores impactos.
Vale aprender com quem tem a Magia nas veias…
Abs,
Não deixe de aproveitar a vida!
Sobre a autora:
Glaucia Miyazaki – parceira RH|PM
Sou empreendedora, executiva e Coach com mais de 20 anos de experiência profissional no chamado “Mundo Corporativo”, atuando em cargos de liderança e diretoria das áreas de Marketing, Vendas e TI de diversas empresas mercado. Publicitária formada pela ESPM/SP, Pós-graduada em Administração e com MBA em Gestão Empresarial pela FGV/SP. Vivenciei de tudo: de pequenas familiares a gigantes varejistas, de Entretenimento a Telecom, de Start-ups a falimentares, de serviços e de produtos, de organizadas as sem muitas regras…. Tenho uma abordagem mais holística sobre a gestão e seu papel e sou conhecida pela forma franca e direta de me expressar. “Quando me pedem um feedback, já vou logo perguntando: Com ou sem açúcar? ”.
Adoro tecnologias, inovação, sou mãe (dois lindos meninos), mulher, esposa e adoro cozinhar.
Crédito de Imagem: google.com
Excelente matéria e me fez repensar a forma que fazemos todo o processo seletivo. Me incomodo muito quando meus BPs ou headhunters não dão um feedback aos candidatos que não passaram, pois acredito que isso é o mínimo de respeito que uma organização pode dar a pessoas que investiram tempo e dinheiro de participar e mostrar interesse.