O mundo corporativo é cheio de máximas e eu, particularmente, as adoro. Chamo de máximas aquelas frases quase codificadas, mas que fazem total sentido para uma equipe, para um grupo e, por vezes, até para a empresa. É um vocabulário próprio que identifica um jeitão. Já contei em outro post que eu pedia “para desenhar com um coração” quando um tema precisava ser explicado detalhadamente, e pedia até dois quando o tema era muito complexo. Hoje eu trago a questão das tartarugas…
Estatísticos, psicólogos, engenheiros, analistas de dados… tem muita gente querendo encontrar um padrão, uma fórmula, uma explicação para a produtividade. Afinal, porque algumas pessoas geram mais resultados que outras? Porque alguns times funcionam melhor que outros? O próprio Google investiu muito no Projeto Aristóteles (homenagem à máxima do filósofo grego de que “o todo é maior do que a soma de suas partes”) para tentar descobrir algum padrão para os times de alto desempenho.
No final, o que descobriram é que não há correlação entre perfis, interesses, amizades, etc… O que faz a diferença de verdade é o que chamaram de “segurança psicológica”: quando o funcionário sente liberdade para pedir ajuda, recebem feedbacks e têm clareza na dinâmica de trabalho. E mais do que gestão de pessoas, compreenderam o fundo neurocientífico da coisa… A mente quer recompensa e evita as ameaças o tempo todo, é um modo de sobrevivência. Então qualquer coisa que provoque estresse, desencadeia uma avalanche hormonal e afeta a forma como o cérebro funciona, por consequência, seu desempenho (já que afeta o raciocínio, a atenção…coisas do córtex).
Estudos na Universidade Claremont mostram que a ocitocina é a base das relações de confiança. Não por acaso é o mesmo hormônio que reforça o vínculo da mãe com seu bebê, sendo também conhecido como o hormônio do amor…O economista americano Paul Zak afirma que “a confiança gera lucro, então é necessário criar situações que estimulem a produção de ocitocina”.
Então se o segredo é amar seu time? De certa forma sim. Nas relações corporativas, não entram valores de fidelidade e amor literalmente. Quando alguém é demitido não é porque foi traído, porque a empresa não o ama mais… Mas para facilitar o entendimento, vamos dizer que sim: tem que amar seu time, se entregar, ser transparente e genuíno, estar aberto, ser firme quando necessário, mas coeso e com propósito. As pessoas enxergam isto. Se elas percebem seu esforço a tendência é que também se esforcem. O efeito manada é um de nossos gatilhos mentais – estas decisões irracionais baseadas em vieses, crenças e tentativas de justificar atitudes. Coisas do nosso sistema límbico influenciando o neocortex.
E quando falamos do indivíduo não é diferente. Se você não estiver se sentindo seguro, não conseguirá explorar seu máximo potencial e entrar no que os neurocientistas chamam de flow: estado de alteração da química e da frequência elétrica do cérebro, quando há concentração total em determinada atividade. É quando nem vemos o tempo passar ao estarmos envolvidos com algo… E quando não estamos focados? Fatalmente alguma tartaruga escapará…
Agora que já entendeu que as tartarugas são as nossas tarefas, projetos, tudo aquilo que demanda nossa atenção e foco, fica fácil compreender que produtividade é mais que organização. A organização só permite que a produtividade ocorra de forma fluida, mais clara e lógica. E é fato que muitos de nós precisam desta organização para conseguir enxergar melhor prioridades, descartar ou delegar tarefas e produzir de forma mais consistente. Mas mesmo uma pessoa organizada, se não tiver foco, não se envolver e sentir a segurança, não vai gerar ocitocina e vai deixar alguma tartaruga fugir…
E você, já deixou tartarugas escaparem por falta de motivação, organização ou foco? Se isto for frequente, precisa olhar para dentro de si. Os mesmos neurocientistas que fizeram estas descobertas também afirmam que as pessoas mais produtivas são aquelas que tem maior autoconhecimento. Então, invista um tempinho para compreender quais são seus valores, seu propósito de vida e mantenha uma mentalidade de crescimento contínuo. Se não está satisfeito com seu desempenho, faça alguma coisa que efetivamente produza algum resultado em sua vida (reclamar não ajuda…), converse, peça ajuda, mude de emprego!
Seja produtivo plenamente, em flow, tanto na vida profissional quanto na pessoal. Este domínio, de sentir as rédeas nas suas mãos, traz a segurança de que está no rumo certo e evita tartarugas perdidas por ai…
Abraços e não deixe de aproveitar a vida!
Sobre a autora:
Glaucia Miyazaki – parceira RH|PM
Sou empreendedora, executiva e Coach com mais de 20 anos de experiência profissional no chamado “Mundo Corporativo”, atuando em cargos de liderança e diretoria das áreas de Marketing, Vendas e TI de diversas empresas mercado. Publicitária formada pela ESPM/SP, Pós-graduada em Administração e com MBA em Gestão Empresarial pela FGV/SP. Vivenciei de tudo: de pequenas familiares a gigantes varejistas, de Entretenimento a Telecom, de Start-ups a falimentares, de serviços e de produtos, de organizadas as sem muitas regras…. Tenho uma abordagem mais holística sobre a gestão e seu papel e sou conhecida pela forma franca e direta de me expressar. “Quando me pedem um feedback, já vou logo perguntando: Com ou sem açúcar? ”.
Adoro tecnologias, inovação, sou mãe (dois lindos meninos), mulher, esposa e adoro cozinhar.
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