Eu só trabalho aqui, senhora.

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Algumas experiências vividas recentemente me deram a ideia de escrever sobre aqueles funcionários que se esforçam para (mal) cumprir o mínimo necessário de sua função: a dos “eu só trabalho aqui, senhor”. E que, por acaso, são muito comuns nos cargos de atendimento ao público.

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Uma delas foi quando levei minha gata de estimação numa clínica especializada. Por conta da lotação fui deixar o carro num estacionamento perto dali. Deixei o carro, tudo certo, fui para a consulta. Voltando lá, cadê o manobrista? Fui perguntar na recepção do prédio – era um desses estacionamentos que ficam em prédios comerciais – e nem a recepcionista nem o segurança sabiam do cidadão. Passei 15 minutos zanzando sozinha, com a gata na caixa de transporte, mais bolsa, exames, receitas, berrando “olááááááá” feito uma doida e nada do bonito. Fui de novo falar com os funcionários do prédio, afinal não era possível que não tivessem um interfone ou qualquer outro meio de comunicação com o subsolo do prédio. “Não é possível senhora, são empresas diferentes”. Ah, claro. Aposto que nunca conversaram entre si, não se comunicam de forma alguma e ninguém que tem escritório no prédio jamais pediu para a recepção providenciar o carro, tudo porque são de empresas diferentes, proibidos de se verem feito enamorados de famílias rivais. Ainda emendei um “quer dizer que vocês não tem como me ajudar, fico aqui sozinha? Muito obrigada”. E já estava caçando minha chave na guarita quando o tal apareceu, contando que estava no banheiro. Realmente, muito condizente com toda a qualidade do serviço.

 

Outra pérola da iniciativa veio do funcionário da natação do meu filho. Imaginem que as crianças, na faixa entre 5 e 7 anos, fazem aula às 8:30 da manhã e estamos em pleno inverno. Pois não é que dia desses não havia água quente para o banho depois da aula? Quando as mães desesperadas foram falar com o tal, ele vira e fala que já sabia. Diante do mar de fúria repleto de ‘então por quê não nos avisou antes?’, a resposta, digna de um poste: “meu papel é ligar na manutenção”.

 

Por fim, houve uma sucessão de diferentes situações quando visitei aquele tal mercado italiano que abriu recentemente em São Paulo. Meu marido foi participar de um curso, enquanto eu e meu fiel escudeiro de 6 anos ficamos zanzando sossegados para conhecer tudo. A primeira parada foi naquele ponto de creme de avelã. Cheguei num momento mágico de conjunção cósmica em que não havia fila, só uma pessoa na minha frente. Quando chegou minha vez, 3 funcionários ficaram ali no caixa papeando, discutindo sobre uma tal tabela e eu ali, com cara de amendocrem. Fiquei só esperando. Até que um deles falou “atende a moça aí”, ao que o caixa não respondeu prontamente (mas adorei o ‘moça’! Na minha idade essas coisas emocionam). Quando se dignou, nem um boa noite, nada – #xatiada. Fiz o pedido, que incluía duas águas. Ele me entrega 2 garrafas de vidro. E eu “copos, por favor?”. O item principal era um crepe com a meleca famosa. Curioso é que quem informava o encarregado de preparar os pedidos eram os próprios clientes, pois eles ainda não têm aquele sistema sofisticado de ler o pedido impresso. Eu poderia ter me aproveitado da situação para pedir o mais caro e eles nem saberiam. Recebi um crepe meio queimado, quase esqueceram de me dar um garfo que, sem faca, não serviu pra nada.

Passamos para o balcão de queijos. Um funcionário muito solícito nos explicou que havia 3 muçarelas diferentes para degustação. Nos ofereceu, comemos, agradecemos e continuamos. Na banca de frutas, outro me explicou que aquele troço que eu nunca tinha visto na vida era um jamelão.

Fiz reserva para jantar no restaurante mais lotado do lugar. A hostess foi muito bacana. Colocou nossos nomes na lista e, para minha surpresa, disse que eu teria preferência, apesar de meu filho já ser um molecão. Quando vi que a fila de espera estava andando mais rápido do que gostaria, pois eu tinha que esperar meu marido terminar o curso, fui de novo falar com ela. Prontamente resolveu, nos orientando a voltar no horário que eu queria e ela arrumaria uma mesa na hora. Foi isso que aconteceu, sem problemas. Mas aí o garçom estragou tudo. Demorou 15 minutos para tirar nosso pedido. Estavam mais preocupados em limpar as mesas recém desocupadas. Cadê meu vinho? Ah, está aqui. O restaurante serve massas e pizzas. Obviamente aconteceu de um pedir pizza e o outro, massa. Mas não obviamente o restaurante sabe lidar com isso e coordenar os pedidos. “Sabe o que é, a pizza chega antes porque as cozinhas são separadas”. Santo Gordon Ramsey, Batman! É humanamente impossível um restaurante saber o tempo de preparo dos pratos e organizar os pedidos para que todos na mesa sejam servidos ao mesmo tempo!

Soma daqui, subtrai dali, a conta deu negativa e nesse restaurante não volto.

Justiça seja feita, os sócios desse lugar são donos de uma rede de mercados da qual sou cliente e fã assumida. Os funcionários, todos, são muito bem treinados, educados, e já me aguentaram nas mais diferentes situações. Meu coração – e orçamento de mercado – pertence a eles eternamente.

Sei que deve faltar orientação, treinamento, liderança e até condições adequadas para muitos que tentam exercer suas funções. Mas falta muita noção e interesse também, e digo isso lembrando das vezes em que trabalhei nesse modo. Hoje penso o quanto isso pode ter limitado minhas chances de novas oportunidades. Bastava ter tido um pouquinho mais de interesse, uma dose a mais de paciência, iniciativa de procurar orientação. Só trabalhando ali você não faz diferença.

É galera, o limão não está tão azedo hoje. Está pensativo!

 

Sobre a autora:

Paula Sanches – parceira RH|PM

Formada em Comunicação Social, é do tempo em que não se tinha nem computador na firma pra todo mundo. Começou como estagiária pegando café e “tirando xerox” e seguiu pelo mundo corporativo até a empresa em que estava falir. Continuou por conta própria entre freelas e novos projetos e escrevendo umas coisinhas aqui e acolá, até que veio parar aqui para contar histórias e dar suas opiniões sarcásticas sobre o mundo corporativo, mesmo sem ninguém pedir.

Crédito de Imagem: Pixabay


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