Meu trabalho voluntário não é da sua conta!

[column size=”one-third”]Foto_PaulaSanches copy[/column]

[column size=”two-third” last=”true”]

Comecei a notar recentemente que aquela rede profissional onde todos colocam seus currículos tem mostrado cada vez mais lembretes relacionados a trabalho voluntário, seja me sinalizando que eu deveria preencher o campo para ter mais chances de ser selecionada, seja por mostrar meus contatos preenchendo esse quesito.

[/column]

Aí eu, que acabo sempre filosofando sobre a vida até olhando um pote de manteiga de amendoim, comecei a me perguntar se a coisa não está sendo desvirtuada e perdendo seu foco principal.

Antes de prosseguir com meu raciocínio, quero deixar bem claro, mas muito claro mesmo, que acho o trabalho voluntário essencial, importantíssimo, indispensável. É a forma de se ajudar quem precisa, melhorar sua cidade, seja doando seu tempo, sua experiência, seu conhecimento, seu sangue. Tenho para minha vida pessoal que não basta eu pagar meus impostos, escolher a escola do meu filho ou o bairro onde quero morar e ficar no meu casulo esperando que cumpram minhas expectativas. Acredito que é meu dever me envolver onde for possível, colocar a mão na massa ou pelo menos olhar tudo mais de perto para poder entender como as coisas funcionam e assim dar minha opinião de maneira mais embasada, mudar o que acho necessário, melhorar o que precisa. Mas isso é meu, uso para minha vida e não tenho o direito de cobrar a mesma postura das pessoas ao meu redor. Afinal de contas a verdade é que eu não sei o que se passa com cada um para entender o porquê de fazerem algo ou não. Não é da minha conta!

Quando as empresas começam a perguntar se os candidatos realizam algum trabalho voluntário o meu receio é que isso esteja se tornando um quesito para pré-julgar e separar candidatos entre pessoas boas e más, dando relevância a algo absolutamente irrelevante para o que a posição pede. Na minha cabeça, o caminho deveria ser contrário: minha experiência profissional é que me ajuda a contribuir em alguma atividade voluntária, se assim eu escolher. Um analista financeiro vai auxiliar cuidando das contas de uma ONG, um profissional de comunicação vai contribuir cuidando do perfil de uma instituição nas redes sociais e por aí vai. Ou não, vou doar meu tempo fazendo algo totalmente fora da minha área, como capinar o mato do jardim de um asilo num dado final de semana.

Na minha modesta opinião, o que deve ser levado em consideração na hora da contratação é sua formação, sua experiência, suas competências. Se eu tenho uma sólida formação, investi em uma boa graduação e pós graduação, realizei um bom trabalho em empresas, por que deveria ser relevante o fato de eu realizar algum trabalho voluntário na hora da seleção? O que isso pode ajudar a cumprir meu papel no mundo corporativo? E o que pode vir depois, as empresas vão começar a perguntar se tenho animal de estimação porque, em caso afirmativo, estudos dizem que sou uma pessoa dedicada/responsável/ fofinha?

De qualquer forma eu sei que estou falando apenas do meu lado de cá, idealista, sonhador e possivelmente equivocado. Por isso fui consultar o outro lado, o do RH. Em uma conversa que tive com o Paulo Moreno sobre esse assunto, ele me falou que o que vai ser levado em conta é que você pode ter vivido algo no trabalho voluntário que contribuiu para desenvolver algumas competências, como trabalho em equipe ou tomada de decisão, e que o RH não vai lhe julgar uma pessoa boa ou má, não é essa a intenção.

Vendo o campo de preenchimento de trabalho voluntário no tal site profissional, vejo os campos de organização, cargo, causa e período para preencher. Eu rodo nessa. Nunca trabalhei regularmente em nenhuma organização. Gostaria muito, mas nunca trabalhei. Se é que podem ser considerados como trabalhos voluntários, minhas experiências foram participar algumas vezes da pintura do canil que minha sogra mantém para animais abandonados, ajudar, anos atrás, na primeira viagem à praia de algumas crianças e trabalhar este ano na barraca de doces da festa junina da escola do meu filho, entre outras pequenas ações pontuais, aqui e ali, em várias causas, de diferentes instituições. Uma de minhas vontades era fazer de meu adorado e adorável dálmata (adotado do canil de minha sogra, lógico!) um cachorro de terapia, daqueles que visitam lugares para alegrar e amenizar o clima, coisa que ainda não consegui concretizar.

Lendo essa lista acho que pareço pedante por elencar essas coisas, e minha idiossincrasia me leva a manter o campo de trabalho voluntário em branco, ainda que eu comece a contribuir regularmente em alguma instituição.

E você? O que acha de tudo isso?

 

Sobre a autora:

Paula Sanches – parceira RH|PM

Formada em Comunicação Social, é do tempo em que não se tinha nem computador na firma pra todo mundo. Começou como estagiária pegando café e “tirando xerox” e seguiu pelo mundo corporativo até a empresa em que estava falir. Continuou por conta própria entre freelas e novos projetos e escrevendo umas coisinhas aqui e acolá, até que veio parar aqui para contar histórias e dar suas opiniões sarcásticas sobre o mundo corporativo, mesmo sem ninguém pedir.

Crédito de Imagem: Pixabay


0.00

2 thoughts on “Meu trabalho voluntário não é da sua conta!”

  1. Muito bem observado, Paula! Até porque, fazer trabalho voluntário não demonstra apenas que você é uma boa pessoa, mas também que você dispõe de tempo para ajudar os outros. Uma amiga minha estava num processo seletivo para ser voluntária fixa em uma ong e ela me disse que em todos os encontros a coordenadora frisava o tempo todo que eles precisavam de pessoas realmente dedicadas a tocar isso como um projeto de vida, e não só mais uma pessoa querendo mostrar pras redes sociais o quanto é boa… Enfim, mesmo que as pessoas ajudem outras tão somente pra alimentar o próprio ego e fazer uma média, o que importa mesmo é que a pessoa que está recebendo a ajuda esteja feliz, mas fik a dik pra quem usa o trabalho voluntário como um “plus” para contratar um candidato a emprego…

    1. Oi Thais, obrigada pelo seu comentário! Pois então, você tocou num excelente ponto: a disponibilidade em fazer um trabalho voluntário. Muitas pessoas podem não fazer nada por absoluta falta de tempo. E nesse caso, seriam preteridas por outros candidatos que conseguem ser voluntárias, mesmo sendo excelentes profissionais? Quero acreditar que na maioria das empresas seja tomado todo o cuidado para não ocorrerem injustiças como essa!

Deixe uma resposta para Paula Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *