Você também é ‘tadinhista’?

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Cada um reage de forma diferente perante os acontecimentos da vida, é necessário respeitar a individualidade. Mas muitas vezes, o que ocorre, é que as coisas deixam de ser individuais e particulares e passam a afetar sua interação com os outros.

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Vejamos: você se separou, divórcio traumático, ou então, perdeu seu animal de estimação amado, gravidez interrompida, ou qualquer outro acontecimento desta natureza… Então, você se encapsula, sobe um muro de 2 metros para se defender e coloca uma armadura de cara inconsolável… Até aqui ok, reação legítima ao evento impactante. A maioria das pessoas fica com alguma dose de dó, outras esboçam alguma compreensão; alguns vão te poupar de solicitações específicas de trabalho, talvez um pouco árduas ou que demandem atenção e concentração, outros serão benevolentes e baixarão a régua da exigência por um tempo, sempre sobre o argumento de ‘tadinho/a’.

Nada errado. Até no seu relacionamento familiar acontecerá isto: as pessoas passarão a te poupar das coisas, te darão um tempo…. Por outro lado, o problema é que às vezes este comportamento é rapidamente assimilado por nós e a gente entra numa situação, até certo ponto, confortável. Passa a ser nossa nova verdade, nossa forma de encarar as coisas. Quando algo muito difícil, não prazeroso ou que apenas queiramos evitar ocorrer basta sucumbir, entrar em crise, fazer cara de vida difícil, cair no choro sem explicação e pronto, tudo volta ao nosso ‘tadinhismo’. É uma vitimização aprendida, uma forma de defesa – ou fuga, e que faz muito sentido quando evitamos lidar de frente com algo.

Funciona em casa, com a família, amigos e também na empresa. E a pessoa pode passar meses ou até anos nesta condição. É aí que reside o problema…. Novamente, reagir desta forma aos acontecimentos é da natureza humana, permanecer nesta situação mais que o esperado, é colocar um freio na vida, fugir da continuidade, criar uma verdade que acaba por existir só na sua cabeça…

Se tiver o apoio das pessoas então, pode ser eterno. Isto é uma espécie de manipulação emocional que ocorre quando falta lógica nos argumentos para sustentar um posicionamento. Até começa de verdade, mas com o passar do tempo, assimila-se a ação-reação e o que era apenas para se proteger e lidar com uma situação, passa a ser sua nova cadeia. Afinal, a pessoa fica literalmente presa em uma crença e outras consequências, nem sempre tão percebidas por quem pratica a vitimização, passam a ocorrer. Por que mesmo você não consegue, depois de 3 anos da morte de seu gatinho, manter sua concentração e se desenvolver no trabalho?

Direta ou indiretamente seu desempenho cai, suas chances de promoção e ascensão diminuem, você se isola e começa a receber um tratamento diferente das pessoas, até porque elas não podem mais contar com você. Algumas pessoas mudam a forma de se vestir, de falar, de cuidar ou não se cuidar mais, podendo até incluir bebidas, drogas, etc.

E a vitimização só funciona porque tem quem apoie. Se não tiver audiência não tem espetáculo. Vamos lá, ninguém é completamente insensível. Há, ou deveria haver, algum nível de empatia, solidariedade e tolerância com os acontecimentos pessoais e como isto impacta a vida de qualquer pessoa. Mas também há, ou deveria haver, o bom senso de que o outro, seja pessoa ou empresa, não tem relação com isto.

Alguns gestores se vêm obrigados a demitir funcionários por extrapolarem o que eles mesmos poderiam segurar de tempo de assimilação… A dose do ‘tadinho’ tem limite. A empresa não passou por nada, e não vai esperar você se reerguer para obter seus resultados se isto levar mais tempo que o bom senso permitir. E como bom senso é uma medida diferente para cada um, começam os conflitos…

Muito se diz que a valorização do ‘tadinho’ é coisa de brasileiro. Se a experiência de vida foi difícil, teve que comer o pão que o diabo amassou, passou necessidades, veio de família simples e conseguiu chegar até onde chegou, ótimo, se orgulhe, mas não se gabe. Isto não torna esta conquista melhor que a de outros e, principalmente, não faz com que seu desempenho – atual ou futuro, seja melhor. O passado não explica ou garante o futuro de ninguém.

No geral, nos comovem as histórias tristes, os políticos ‘humildes’, como dizem: gente como a gente. Não gostamos de propagandas comparativas, achamos, no mínimo, desnecessárias. E com esta comoção coletiva, tomamos decisões como cidadãos, na vida pessoal e na profissional.

Desculpem o exemplo um tanto político desta frase, mas nem Lula, nem Dilma passariam em uma entrevista de emprego tradicional para um cargo executivo em empresa privada. Isto porque, para exercer qualquer posição corporativa nesta terra, não basta força de vontade e disposição, é exigido algum preparo, conhecimento técnico e até experiência. E não adianta usar argumentos de vitimização e ‘tadinhismo’, pois você não vai conseguir o emprego. Agora porque isto funciona com os políticos, já é outra história…

E então nos vemos com um dilema de gestor: precisar entregar resultados, ter que fazer o time funcionar, ser cobrado o tempo todo e ainda precisar ter uma dose de humanidade e bom senso para lidar com pessoas sempre. Não se culpe sempre se você for julgado como desalmado, frio e calculista por tomar decisões tidas como insensíveis. Não deve ocorrer desvio de propósito no papel de cada um, novamente devemos apelar para o bom senso em ambos os lados.

E por mais humano que alguém seja, dentro do mundo corporativo, há cobrança e necessidade de entregar os resultados, de continuar fazendo a roda girar, independente do que ocorra.

Então façamos um favor em nome do coletivo, das pessoas que nos cercam, sejam amigos, familiares e até a empresa: vamos analisar se nos colocamos em alguma armadilha ‘tadinhista’ e passemos a enfrentá-la. Tudo com o tempo se resolve.

 

Abs, e não deixe de aproveitar a vida.

 

Sobre a autora:

Glaucia Miyazaki – parceira RH|PM

Sou executiva e Coach com mais de 17 anos de experiência profissional no chamado “Mundo Corporativo”, atuando em cargos de liderança e diretoria das áreas de Marketing, Vendas e TI de diversas empresas mercado. Publicitária formada pela ESPM/SP, Pós-graduada em Administração e com MBA em Gestão Empresarial pela FGV/SP. Vivenciei de tudo: de pequenas familiares a gigantes varejistas, de Entretenimento a Telecom, de Start-ups a falimentares, de serviços e de produtos, de organizadas as sem muitas regras…Tenho uma abordagem mais holística sobre a gestão e seu papel e sou conhecida pela forma franca e direta de me expressar. “Quando me pedem um feed-back, já vou logo perguntando: Com ou sem açúcar?”.

Além disto sou mãe (dois lindos meninos), mulher, esposa, estou trabalhando em um livro sobre Gestão e adoro cozinhar.

Crédito de Imagem: Pixabay


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