Casamento, carreira, filhos e depilação em dia

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Hoje eu quero começar meu texto logo de cara perguntando a você, caro leitor do sexo masculino, como faz para conciliar sua carreira, seu casamento, a criação dos seus filhos, a roupa lavada e ainda manter essa pele tão bem barbeada e perfumada? Será que a paternidade vai acabar com sua carreira? Sua esposa ajuda na criação dos filhos? Ela é uma mãe presente?

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Isso parece um monte de baboseira. E é. Mas essa baboseira toda é despejada sempre em cima das mulheres e achamos a coisa mais normal e natural do mundo. Clicando por aí, vi no Upworthy um post sobre o perfil “Man who has it all”. É um perfil satírico, que inverte os papeis e traz dicas para pais que trabalham fora e que precisam fazer malabarismos para conciliar carreira, filhos e esposa. Coisas como “Sua esposa ajuda com as crianças? Você é muito sortudo! Minha esposa uma vez ligou a TV para nossos filhos” ou “Se eu acho possível conciliar trabalho e paternidade de maneira satisfatória e compensadora? Sim, claro que sim!” e ainda “Atenção todos os homens: a decisão de ter filhos vai destruir sua carreira?”. Aconselho acessar e divertir-se com as pérolas.

Algumas pessoas podem achar esse tipo de perfil ofensivo ou então que diminui a discussão, mas eu particularmente acho que o humor é uma maneira excelente de jogar luz nos assuntos que estão empoeirados e que acostumamos a ver como aceitáveis, sem questionar. O exercício de se colocar no lugar do outro é maravilhoso e por ele vemos o tanto de coisas que deixamos passar e que não deveríamos.

Falo por nós, mulheres, que estamos em constante pressão. Esperam de nós não menos do que a perfeição. Devemos dar conta de absolutamente tudo (daí o trocadilho do nome do perfil com “Man who has it all”). Temos que criar nossos filhos impecavelmente, nos mantermos atraentes e depiladas, pagar as contas e sermos firmes em nosso trabalho – mas não muito firmes porque, sabe, isso é coisa de menino. Tudo isso a tempo de chegar em casa e preparar um jantar maravilhoso, fresquinho e só com produtos orgânicos. Você quer trabalhar fora querida? Te faço esse favor, mas se vire para não deixar nenhuma das outras 589 petecas caírem.

Eis que eu continuei clicando por aí e, graças a uma amiga, encontrei outro post interessante, sobre um estudo de Harvard. Foram entrevistados cerca de 25.000 formandos da Harvard Business School das últimas décadas e foi constatado que os homens estavam ocupando posições mais altas e de maior responsabilidade do que seus pares femininos. Isso aconteceu não porque as mulheres abandonaram suas carreiras, mas porque, a partir do momento em que tiveram filhos, deixaram de ser vistas pelas empresas como profissionais com potencial de crescimento. Faltaram de desafios, promoções escassearam, a perspectiva de crescimento minguou. Além disso, a maioria dos homens entrevistados disse acreditar que suas carreiras deveriam ser priorizadas em detrimento às de suas esposas, simplesmente porque sim. O que leva ao curioso título do post: “Filhos não arruinam a carreira das mulheres –maridos sim”. Ou seja, essa crença está enraizada tanto nas empresas, que acham que as mulheres passam a não ser mais competentes quando se tornam mães, quanto nos companheiros que assumem que eles são os merecedores do foco profissional e ponto.

Amiga mulher, quer se tornar CEO e ainda ter uma família? Talvez seja o caso de seguir o conselho de Ursula Burns, CEO da Xerox. Ela brincou que o segredo do sucesso era se casar com alguém 20 anos mais velho, como foi o caso dela. Quando ele se aposentou, ela estava atingindo o ápice de sua carreira e seu marido então ficou a cargo de cuidar dos filhos a maior parte do tempo. Tudo resolvido.

Com tantas informações, brincadeiras e referências, voltamos àquela máxima que serve para quase tudo na vida: o segredo é achar o equilíbrio. Eu vejo cada vez mais homens efetivamente dividindo as responsabilidades sobre os filhos, sem ser aquele papinho raso de pai herói que joga bola com o filho 5 minutos por semana e acha que está arrasando. Vejo cada vez mais as mulheres se impondo e cobrando igualdade e parceria. Sinto que, apesar de faltar muito chão ainda, o discurso vem mudando e estamos passando valores diferentes a nossos filhos. Já as empresas acho que poderiam estar um tanto mais adiantadas no respeito e mentalidade com relação à contratação mulheres. De qualquer forma, ainda há muito o que se fazer e conquistar.

Vamos deixar claro aqui que não julgo de forma alguma a escolha por priorizar os filhos e deixar a carreira de lado. O que questiono aqui é a mentalidade ainda dominante de simplesmente se assumir que cuidar dos filhos é tarefa da mulher, fazendo então com que ela seja um risco para a empresa e sua carreira seja preterida pela do marido. Seja casal hétero ou gay, as decisões devem ser sempre em comum acordo, de maneira a respeitar as aspirações de ambos. Afinal, todos temos sonhos e ambições e o direito de lutar por eles, e isso não pode ser decidido simplesmente de acordo com o que carregamos em nossas roupas íntimas.

Sobre a autora:

Paula Sanches – parceira RH|PM

Formada em Comunicação Social, é do tempo em que não se tinha nem computador na firma pra todo mundo. Começou como estagiária pegando café e “tirando xerox” e seguiu pelo mundo corporativo até a empresa em que estava falir. Continuou por conta própria entre freelas e novos projetos e escrevendo umas coisinhas aqui e acolá, até que veio parar aqui para contar histórias e dar suas opiniões sarcásticas sobre o mundo corporativo, mesmo sem ninguém pedir.

 

Fontes:

Man who has it all

twitter: @manwhohasitall

http://manwhohasitall.tumblr.com

Upworthy

http://www.upworthy.com/what-would-it-sound-like-if-men-got-the-lame-advice-we-give-to-working-moms?c=ufb2

Harvard Business School Study

http://news.nationalpost.com/news/world/children-dont-ruin-womens-careers-husbands-do-harvard-study-finds

https://hbr.org/2014/12/rethink-what-you-know-about-high-achieving-women

Crédito de Imagem: Pixabay


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4 thoughts on “Casamento, carreira, filhos e depilação em dia”

  1. Felizmente Tenho muitos exemplos de pais participativos, como meu marido, Ele faz tudo que uma mãe faz. Mas meu maior sofrimento esta em perceber que profissionalmente você não é mais considerada um potencial, pois não tem mais a flexibilidade de antes, flexibilidade de sair mais tarde ou viajar a trabalhado quando e por quanto tempo for necessário, faltar quando tem pediatra, ficar em casa quando esta doente, etc… Também não são atitudes que demostram sua dedicação ao trabalho.

    Nós mulheres nos cobramos muito. Ser mãe, profissional, mulher, filha, amiga perfeitas!!! E a maternidade nos mostra que todas juntas será muito difícil.

    1. Oi Priscila! Nos cobramos muito mesmo. Posso dizer que no meu caso demorou um pouco a cair a ficha de que devemos dividir as responsabilidades numa família, e não apenas “contar com ajuda” paterna. Acredito, ou melhor, ainda espero que as empresas comecem a perceber que os homens também dividem essas responsabilidades e por isso são também passíveis de atrasos, faltas e todos esses riscos (detesto falar que isso é um risco!) referentes à criação de filhos, de se ter uma família. Quem sabe assim não passam a encarar seu quadro de funcionários como pessoas completas, com deveres e responsabilidade profissionais e também sua vida pessoal, independente de serem homens ou mulheres.

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