Feminismo de novo

 

De novo. E de novo. E de novo.

Semana passada percebemos um comentário recente em um texto meu de dois anos atrás (2017 foi um ano dos diabos, em breve conto tudo sobre o sumiço). Meu texto tem o título “LinkedIn não é Tinder” e fala sobre uma usuária da rede profissional que reportou assédio, expondo um usuário que elogiou sua aparência. Assim como ela, várias mulheres contaram sofrer  situações parecidas e disseram até colocar fotos mais feinhas, digamos assim, para não correr nenhum risco.

Quem comentou meu texto foi alguém chamado André, que reclamava do meu mimimi, que não havia nada de mal em elogiar, que nós mulheres não temos limites, queremos tudo e terminava falando que esse assunto já deu. Veja só, meu texto era de dois anos atrás.

Só neste ano, o Ligue 180 registrou 740 denúncias de feminicídio. Nas últimas semanas não foram poucos os casos que vimos divulgados na mídia de mulheres mortas por seus companheiros.

A Universidade de Medicina de Tóquio admitiu, no último dia 7 de agosto, ter baixado as notas de admissão das candidatas para privilegiar homens. O objetivo era limitar a participação feminina em até 30%. 

No MASP, 6% das obras do acervo são de mulheres, mas 60% dos nus são femininos. 

Ainda na arte, há que sempre se deixar claro que se trata de uma “artista mulher”, como se encontrar uma obra produzida por um ser feminino fosse um assombro. A página Artsy publicou semana passada que enquanto pintores impressionistas tinham seu trabalho considerado vigoroso ou original, as poucas artistas produziam coisas delicadas, charmosas ou graciosas.

A PM do Paraná lançou edital na semana passada com vagas para cadetes. Entre as características requeridas, estava a masculinidade, definida como “capacidade de o indivíduo não se impressionar com cenas violentas, suportar vulgaridades, não emocionar-se facilmente, tampouco demonstrar interesse em histórias românticas e de amor”.

Peggy Guggenheim (26/08/1898 – 23/12/1979), foi uma herdeira americana importantíssima para a Arte Moderna, formando uma das mais notáveis coleções. Viveu e amou livremente, sendo taxada de ninfomaníaca, escandalosa, imoral. Pablo Picasso (25/10/1881 – 08/04/1973), aquele mesmo do cubismo, tem sua aura sedimentada como gênio indomável, sedutor, incontrolável, quando na verdade era misógino, pedófilo, machista. 

Ai André. A gente ainda nem começou a falar sobre feminismo, sinto lhe informar.

“Somos malas; podemos ser peores”

Sobre a autora:

Paula Sanches – parceira RH|PM

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Formada em Comunicação Social, é do tempo em que não se tinha nem computador na firma pra todo mundo. Começou como estagiária pegando café e “tirando xerox” e seguiu pelo mundo corporativo até a empresa em que estava falir. Continuou por conta própria entre freelas e novos projetos e escrevendo umas coisinhas aqui e acolá, até que veio parar aqui para contar histórias e dar suas opiniões sarcásticas sobre o mundo corporativo, mesmo sem ninguém pedir.

Crédito de Imagem: a própria autora fez na exposição do MASP


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